sábado, 29 de maio de 2010

Censura da era Vargas perseguiu poeta

Se a história da literatura desconhece a Cecília Meireles da luta política, desconhece também a que sofreu perseguições da censura de Vargas, dos católicos e em concursos literários.

O primeiro desencontro com Alceu Amoroso Lima se dá em 1929, quando Cecília concorre à vaga de professor de literatura brasileira pela Escola Normal. A jovem professora ainda não era a consagrada poetisa de ''Viagem'' (1939), ''Vaga Música'' (1942) e ''Mar Absoluto'' (1945), embora já fosse considerada pelos modernistas cariocas uma revelação, com seus livros ''Espectros'' (1919) e ''Baladas para El-Rei'' (1925).

Concorreu à pretendida vaga com a tese ''O Espírito Vitorioso'', um trabalho francamente liberal, no qual discorria sobre a liberdade individual na sociedade. E perdeu. Antônio Carlos Villaça, em ''Tema e Voltas'', é enfático: "Clóvis Monteiro derrotou Cecília, que sempre guardou tristeza de Alceu (Amoroso Lima) ter votado em seu adversário".

A contenda, até aí, poderia se resumir puramente a problemas de ordem pedagógica. Clóvis Monteiro era um técnico de educação sem qualquer pretensão literária. Sem dúvida, seu perfil, numa época em que a valorização da tecnocracia ganhava espaço, agradou muito mais do que o da jovem professora e poeta.

Passados cinco anos e todo o furor causado pela "Página de Educação", Cecília inaugura em 1934, junto com seu marido, o pintor Correia Dias, o Centro de Cultura Infantil, no "vazio e abandonado prédio" (nas palavras dela) do Pavilhão do Morisco, na praia de Botafogo, no Rio. Na administração de Anísio Teixeira, o centro reunia "mil e quinhentas inscrições de leitores".

Em 1937, em plena vigência do Estado Novo, o centro é invadido pelo interventor do Distrito Federal, que apreende de sua biblioteca ''As Aventuras de Tom Sawyer'', de Mark Twain, por considerá-lo comunista. O caso teve repercussão internacional e nacional. No seu artigo "A Última Aventura de Tom Sawyer", o acadêmico Austregésilo de Athayde lamenta que o ''New York Times'' tenha denunciado ao mundo que, no Brasil, o clássico americano fora retirado das prateleiras de uma biblioteca infantil por ser considerado "material subversivo".

Depois de invadido pela polícia, a prefeitura resolve fechar o Centro de Cultura Infantil e, em seu lugar, instala um posto de arrecadação fiscal.

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