Em 1934 a mulher brasileira conquista o direito ao voto. Cecília não se encontra entre aquelas que lutaram nas praças públicas por esse direito. Por quê? Porque é outro o seu campo de ação social. Ela está nos jornais e nas escolas. Nesse mesmo ano é chamada para dirigir o Centro Infantil, a ser instalado no Pavilhão Mourisco, em Botafogo. Vê no convite a possibilidade de pôr em prática as idéias sobre o novo modelo de educação que tanto tem defendido na imprensa. Constrói aí a primeira Biblioteca Infantil da cidade do Rio de Janeiro. Correia Dias transforma o porão numa cidade encantada. Ali as crianças podem afinal exercer livremente a sua imaginação em atividades criativas várias: pintura, leitura, música, desenho. O sonho, porém, como todo sonho, não dura muito. Intrigas políticas levam ao fechamento da biblioteca. Violenta devassa, promovida pela Polícia Política do governo de Getúlio Vargas, destrói inclusive cerâmicas de inspiração marajoara criadas por Correia Dias. A explicação para tal vandalismo: livros, considerados perigosos à educação infantil, entre eles, (pasmem!) As aventuras de Tom Sawyer, de Mark Twain. Uma ironia, um contra-senso, acontecer isso logo com ela. Apesar de progressista, sempre fora cética demais para aderir a qualquer partido político e bastante espiritualista para deixar-se seduzir pelo marxismo. Coisas da ditadura.
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quinta-feira, 10 de junho de 2010
O SONHO VIOLENTADO
SEUS LIVROS
Espectros, 1919
l Nunca mais... e Poema dos Poemas, 1923
l Baladas para El-Rei, 1925
lCriança, meu amor, 1927
l Viagem, 1939
l Vaga música, 1942
l Mar Absoluto e Outros Poemas,1945
l Retrato natural, 1949
l Amor em Leonoreta, 1951
l Dez noturnos de Holanda & O aeronauta, 1952
l Romanceiro da Inconfidência, 1953
l Pequeno Oratório de Santa Clara, 1955
l Pistóia, Cemitério Militar Brasileiro, 1955
l Canções, 1956
l Romance de Santa Cecília, 1957
l Obra poética, 1958
l Metal Rosicler, 1960
l Poemas escritos na Índia, 1961
l Solombra, 1963
lOu isto ou aquilo, 1964
l Crônica trovada da cidade de Sam Sebastiam, 1965
l Poemas italianos, 1968
l Ou isto ou aquilo & Inéditos, 1969
l Cânticos, 1981
l Oratório de Santa Maria Egipcíaca, 1986
Desde 1998 vem sendo desenvolvido projeto de publicação de toda a obra em prosa da poeta, coordenado pelo camonista Leodegário de Azevedo Filho.
terça-feira, 8 de junho de 2010
Motivo
Não sou alegre nem sou triste:sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,não sinto gozo nem tormento.Atravesso noites e diasno vento.
Se desmorono ou se edifico,se permaneço ou me desfaço,— não sei, não sei.
Não sei se ficoou passo.Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:— mais nada.
Despedida
Nem tudo é fácil
NÃO: JÁ NÃO FALO DE TI
PERGUNTO-TE ONDE SE ACHA A MINHA VIDA
Pergunto-te onde se acha a minha vida.
Em que dia fui eu. Que hora existiu formada
de uma verdade minha bem possuída
Vão-se as minhas perguntas aos depósitos do nada.
E a quem é que pergunto? Em quem penso, iludida
por esperanças hereditárias? E de cada
pergunta minha vai nascendo a sombra imensa
que envolve a posição dos olhos de quem pensa.
Já não sei mais a diferença
de ti, de mim, da coisa perguntada,
do silêncio da coisa irrespondida.
Cecília Meireles